Tu! Que a ninguém pediste para vir ao mundo
Tu! Que és o fruto
daquele grande amor!
Daquele amor que
leigos e jurados testemunharam
Daquele amor de
muita mentira
Daquele amor
selvagem,
Daquela violência que marcou
tua mãe para todo o sempre
Por tudo isso criança
Muito amor e
muita rejeição te marcam.
Então não vejo?
Vejo, sim, criança!
Vejo, quando
divagas com a manada a procura de pasto.
Chova, troveje
ou debaixo do sol árido estás alí
Vejo nas grandes escolas
lá da cidade alta
Quando logo pela manhã, bem
equipado, o carro te deixa à porta do colégio
Quando desces do chapa e,
cuidadosamente, atravessas as largas avenidas
Quando te metes naquela
modesta rua a caminho da escola
Quando, com camisola e
sapatilhas rotas, lutas para vencer a pobreza
Quando passo por ti ali
no passeio encostado à padaria com uma bacia vendendo badjias
Quando, com uma caixa de
papelão repleta de quinquilharias, interpelas a todos
Tentando ganhar qualquer
coisinha.
Quando junto do semáforo
te aproximas de cada carro pedindo uma moeda
Ó criança...
Ergue a cabeça
Ergue a cabeça e grite
bem alto pelos teus direitos
Grite e lute com todas as
armas e forças, pois
Criança, tu és o nosso
amanhã
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