quinta-feira, 9 de outubro de 2014

CRIANÇA















Tu! Que a ninguém pediste para vir ao mundo
Tu! Que és o fruto daquele grande amor!
Daquele amor que leigos e jurados testemunharam
Daquele amor de muita mentira
Daquele amor selvagem,
Daquela violência que marcou tua mãe para todo o sempre
Por  tudo isso criança
Muito amor e muita rejeição te marcam.

Então não vejo?
Vejo, sim, criança!
Vejo, quando divagas com a manada a procura de pasto.
Chova, troveje ou debaixo do sol árido estás alí
Vejo nas grandes escolas lá da cidade alta
Quando logo pela manhã, bem equipado, o carro te deixa à porta do colégio
Quando desces do chapa e, cuidadosamente, atravessas as largas avenidas
Quando te metes naquela modesta rua a caminho da escola
Quando, com camisola e sapatilhas rotas, lutas para vencer a pobreza
Quando passo por ti ali no passeio encostado à padaria com uma bacia vendendo badjias
Quando, com uma caixa de papelão repleta de quinquilharias, interpelas a todos
Tentando ganhar qualquer coisinha.
Quando junto do semáforo te aproximas de cada carro pedindo uma moeda

Ó criança...

Ergue a cabeça
Ergue a cabeça e grite bem alto pelos teus direitos
Grite e lute com todas as armas e forças, pois
Criança, tu és o nosso amanhã


Sem comentários:

Enviar um comentário